O passado, presente
Em uma tarde agitada depois de muito stress no trabalho procuramos desacelerar e buscamos a tranquilidade, ao sentarmos no sofá desgastado da sala, surge um feixe de luz da janela e ilumina as partículas de poeira no ar. Pegamos aquele álbum de fotografias antigo para folhear, as vezes guardamos sobre o mesa de centro da sala e outras vezes escondemos para não vermos as fotos daqueles que se foram, tem gente que compra álbuns com capas de couro e detalhes em dourado para homenagear o passado. As páginas do álbum, amareladas pelo tempo, contam histórias silenciosas daqueles dias que se foram e agora são lembranças. Hoje utilizamos o celular para fazer selfies e registrarmos as fotos, onde guardamos essas fotos? No Drive ou no pendrive, ou deletamos para não encher a memória do celular?
Pelo toque com os dedos sobre uma imagem das fotos tentamos lembrar da suavidade da pele daqueles que não estão ao nosso lado, uma lembrança que só nós podemos reviver em particular, em nosso íntimo e memórias. Lembro de um passeio que sempre realizamos, um piquenique em família sob a sombra de uma grande árvore, em um local onde estudava, a gente andava de bicicleta ou caminhava pelas calçadas das faculdades, eram risos e as vozes tinham assuntos e planos para o futuro, mas não foram registrados nas fotos, apenas imagens ficaram e vagas lembranças quase audíveis pelo brilho da fotografia. Pessoas que antes estavam perto, agora pessoas que estão longe, algumas das quais já não fazem mais parte desse mundo, mas, parecem sorrir por estarem em outra vida, outras parecem estar congeladas no tempo por ainda não terem uma pós vida e estarem presas ao material. Cada página virada, revivemos momentos, percebemos como o tempo passa e os móveis ficam envelhecidos na sala, ecos e risadas passam ao longo de um tempo que já não existe mais.
As fotos mostram rostos que se foram de amigos de infância, parentes distantes, amores de verão – cada um deixando uma marca ou cicatriz em relevo em nossa pele, marcas da vida, cada encontro imortalizado surge em flashes na tela mental como luzes. E, enquanto revivemos temos laços afetivos que nos absorvem nessas memórias, felizmente ou infelizmente, quem saberá? Somos breves no viver, o que conta nesta vida que é tão preciosa apesar da transitoriedade entre o mundo material e o espiritual? O que resta sempre será o amor se nossos corações são bondosos, ou a ira se são corações de pedra, purifique seus corações antes de partirmos, depois acredito que será mais difícil reverter a situação.
Fechamos lentamente o álbum do passado, no presente voltamos a buscar nossa vida com aqueles que ficaram, ainda são os verdadeiros tesouros da vida, um dia fecharemos nosso álbum da vida para ter encontro com aqueles que se foram, se nos for permitido.
A essência da vida consiste nessa longa jornada.
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